sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

CRÍTICA: Birdman Ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)



Birdman, or The Unexpected Virtue of Ignorance
119 minutos - Comédia/Drama - Estados Unidos - 2015
Direção: Alejandro González Iñarritu
Roteiro: Alejandro González Iñarritu, Nicolas Giacobone, Alexander Dinelaris, Armando Bo
Elenco: Michael Keaton, Edward Norton, Naomi Watts, Emma Stone, Andrea Riseborough, Zach Galifianakis

Riggan (Miachael Keaton)  é um ator famoso por uma franquia de filmes de super-herói da década de 90 que tenta provar seu valor num projeto da Broadway que adaptou de um livro, dirige, enquanto vive uma crise existencial e tem que lidar com a voz de seu antigo personagem com quem começa a interagir.

O que chama atenção logo de cara é a direção e a forma como o filme é conduzido: um longo plano sequência com cortes escondidos (até os 15 minutos finais, onde o diretor vê a necessidade de inserir novos elementos). Temos a impressão de que estamos ali no meio dos atores observando, girando em volta deles, sempre acompanhando alguém ou parado em determinado lugar esperando que determinada pessoa passe por ali para acompanhar algum detalhe de sua vida. É como se fôssemos mais um personagem da trama, o próprio Birdman, que acompanha a tudo calado e interage apenas com Riggan.

Além de ter um elenco grandioso, tem personagens complexos compostos cuidadosamente por seus intérpretes. Destaques para Edward Norton que dá vida a Mike um ator com certa fama na Broadway que não se importa com o que todos pensam e acredita que deve ser autêntico nos palcos (o sujeito diz que está o tempo todo atuando, exceto quando está em cena) , então se o personagem bebe, ele fica bêbado de verdade. Sempre arranca risos do público com sua espontaneidade e nos conflitos que cria devido a isso. Emma Stone é Sam, filha de Riggan recém saída de uma clínica de reabilitação, trabalha como assistente de seu pai e está quase o tempo todo no parapeito do edifício. Seus grandes olhos ajudam na sua interpretação, e embora demonstre um sentimento de rebeldia e mágoa com o pai, também não deixa de demonstrar preocupação e carinho. Há uma cena fantástica na qual a atriz discute com seu pai, dizendo a ele que não é pela arte que está fazendo a peça e sim porque quer fazer algo relevante como todas as pessoas no mundo. E chegamos a Riggan, vivido por Keaton de forma intensa, cujas emoções de um instante para outro, algumas vezes quase catatônico, chegando a intenso entusiasmo quando recebe a notícia de que Mike substituirá um ator medíocre de sua peça que se acidentou. Conforme vamos conhecendo mais vemos como ele está se perdendo, o aumento do seu conflito e crise existencial. Um ator que já foi uma estrela de cinema agora cheio de dívidas, confinado a um camarim pequeno e empoeirado que "fede a testículos" como ele mesmo diz. 

O diretor também é grande responsável pelo desempenho do elenco, utilizando muitas vezes close no rosto dos atores e deixando eles atingirem seu potencial nas cenas mais dramáticas (como na conversa entre Riggan e uma crítica de teatro, ou na já mencionada cena entre Sam e seu pai). Embora aqui e ali tenha sua carga dramática, o filme é repleto de cenas cômicas, como aquela do protagonista andando de cueca e descalço pela rua molhada da Broadway, nos passando a impressão de ser um "homem-galinha" andando rápido, uma clara paródia ao super-herói que interpretou no passado, e que dá título ao filme.

O roteiro é inteligente, e vai nos dando pistas dos acontecimentos vagarosamente, enquanto aprendemos a apreciar mais os personagens e vamos entendendo a conexão da peça ensaiada com a vida do protagonista. Enquanto isso, a trilha sonora composta basicamente por sons de uma bateria, uma alusão ao espetáculo teatral, mas que também demostram a urgência e confusão que se passa na cabeça de Riggan, tornando o caos apresentado ainda mais óbvio quando no caminho para o ato final da peça vemos um sujeito tocando o instrumento numa sala (e também da cena que se segue ao final da peça). Com um final bastante satisfatório, embora possa decepcionar alguns espectadores, Birdman, ao contrário da impressão que Riggan deixou aos fans do seu filme, ficará  marcado por muito tempo em nossas mentes.


Adriano Cardoso

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