sexta-feira, 6 de março de 2015

CRÍTICA: Para Sempre Alice



Still Alice
101 minutos - Drama - Estados Unidos - 2015
Direção: Richard Glatzer e Wash Westmoreland
Roteiro: Richard Glatzer e Wash Westmoreland baseado no romance de mesmo nome escrito por Lisa Gênova
Elenco: Julianne Moore, Alec Baldwin, Kristen Stewart, Kate Bosworth

Alguns filmes são lembrados por sua bela fotografia, outros por uma direção de arte complexa, enquanto muitos apenas pela atuação de seu protagonista, que é o caso deste "Para Sempre Alice".

Tendo início com um close (recurso usado extensamente no longa) do rosto da protagonista num jantar de família quando esta comemora 50 anos de vida, o filme narra a vida de Alice (Moore) desde que começa a apresentar os primeiros sinais de um precoce mal de Alzheimer. A partir daí acompanhamos a evolução da doença e a maneira como a protagonista e sua família lidam com esta situação.

Utilizando se de muitos planos fechados, os diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland nos passam a todo instante a sensação de claustrofobia e agonia, remetendo ás sensações vividas por Alice. Por diversas vezes o cineasta decide posicionar a câmera nas costas da protagonista e deixar fora de foco todas as outras pessoas que aparecem em cena, recurso que reforça para o espectador o desespero e o isolamento da personagem. 

Os idealizadores tentam utilizar como ferramenta narrativa saltos abruptos no tempo, para ilustrar melhor o caos mental da personagem principal. Embora interessante no início, o recurso começa a se mostrar preguiçoso e falho na medida em que confunde o próprio espectador com relação a passagem de tempo entre uma cena e outra. Aliás, tenta distrair quem assiste ao filme, uma vez que conforme o tempo passa percebemos como o roteiro é raso, desinteressante e sem grandes conflitos. Não existem subtramas, e exceção feita a um determinado evento (aguardado desde praticamente o início), o restante é muito previsível.

O elenco tem atuações impecáveis. Baldwin da vida a John Howland, carinhoso e paciente marido da protagonista, não suporta ver a esposa nessa situação e procura maneiras de escapar daquilo ao mesmo tempo em que sempre externa preocupação com a amada. Stewart nos convence como filha caçula e rebelde de Alice. Ao mesmo tempo que nos mostra a necessidade de confrontar os desejos conservadores que sua mãe projeta para seu futuro (sempre manifesta a vontade que a garota abandone a profissão de atriz e procure algo mais "sólido"), demonstra muita paciência e vontade para compartilhar partes de sua vida com ela. E por fim temos Julianne Moore, que não a toa, ganhou com este papel todos prêmios que disputou. A atriz constrói Alice com muita sutileza, desde os pequenos sinais do início da doença, até delicadas expressões de desconforto ou embaraço em situações que ocorrem. O que fica evidente quando discursa para outros portadores do mal de Alzheimer: já com bastante dificuldade utiliza um marca texto para ter certeza de onde parou na leitura, com articulação dificultada e falta de ritmo das palavras deixa bastante verossímil sua condição, nos emocionado com isso e ao mesmo tempo com a mensagem que deseja transmitir. 

Sem contar com uma trama mais elaborada e sem antagonistas (todos são sempre gentis e solidários), "Para Sempre Alice" embora levante a questão desta terrível doença para a sociedade, perde a oportunidade de explorar o preconceito e a discriminação que os portadores sofrem pelo restante do mundo, que não costuma entender as dificuldades e limitações dos doentes, tornando a vida dos mesmos ainda pior. O que fica em nossa memória é a brilhante atuação de Julianne Moore e a questão levantada sobre esta doença tão terrível, que faz com que as pessoas acometidas por ela se percam em suas mentes, e ainda vivas tenham suas personalidades falecidas para os amigos e parentes.


Adriano Cardoso









Filmes vistos em Fevereiro/2015

Segue abaixo a minúscula lista de filmes que assisti em fevereiro deste ano. Devido a novos compromissos está mais complicado ver uma quantidade razoável de títulos ao mês. Mas tentarei ao menos manter uma média mínima de três títulos por semana. Fiquem a vontade para discutir/comentar:

Birdman Ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Estados Unidos/2015) *****
O Amor é Estranho (Estados Unidos/2014) ***
Invencível (Estados Unidos/2015) **
Santo Vizinho (Estados Unidos/2014) ***
Leviatã (Russia/2015) ****
Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo (Estados Unidos/2014) ***
Antes de Dormir (Inglaterra/2015) **
De Volta ao Jogo (Estados Unidos/2014) **
Clube de Compras Dallas (Estados Unidos/2013) ****
Sun of a Gun (Austrália/2014) **
Corações de Ferro (Estados Unidos/2014) ***
Two Man in Town (França/ Estados Unidos/ Argélia/ 2014) ***

Adriano Cardoso