domingo, 26 de agosto de 2012

CRÍTICA: O Vingador do Futuro




Total Recall
165 minutos - Ação - 2012 (Estados Unidos)
Roteiro: David S. Goyer, Christopher Nolan,  Jonathan Nolan
Direção: Christopher Nolan 
Elenco: Christian Bale, Tom Hardy,Michael Kain, Anne Hathaway, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Gary Oldman, Joseph Gordon-Levitt, Matthew Modine 



Em 1990 o diretor Paul Verhoeven trazia as telas O Vingador do Futuro, um filme de ação e ficção científica com o astro do momento: Arnold Schwarzenegger. O longa tinha grandes efeitos especiais, se situava num mundo bem construído e muito interessante, e tinha uma história que, embora com algumas falhas, prendia o espectador do começo ao fim da projeção. Vinte e dois anos depois chega às telas essa refilmagem. Com um orçamento maior e elenco melhor todos esperavam que pudesse surgir algo interessante. Infelizmente não é o que acontece.

Diferente do original aqui toda ação se passa na Terra. Guerras devastaram o planeta como o conhecemos restando apenas o Federação Britânica, composto pela Europa, e “A Colônia”, a Austrália, local de trabalho de muitos sobreviventes deste mundo. Há um único meio de transporte que liga os dois continentes, A Queda, um misto de trem com nave espacial, que atravessa o núcleo do planeta para alcançar seu destino. Uma revolta esta prestes a eclodir: os habitantes da Colônia estão insatisfeitos com as condições de trabalho e com a opressão que sofrem pelos governantes. Douglas Quaid (Collin Farrel) um simples trabalhador da Colônia, sentindo que falta algo em sua vida resolve visitar a Rekall, uma empresa que transforma sonhos em memórias. Algo dá errado e Quaid não sabe se sua memória havia sido apagada pois ele na verdade é um espião que trabalha para a resistência da Colônia, ou se está vivendo um sonho criado pela empresa.

Embora o ambiente mude com relação ao filme anterior os personagens principais são mantidos. Além do protagonista já citado, temos a esposa de Quaid interpretada por Kate Beckinsale (e que tem um papel muito maior do que Sharon Stone tinha no original), Melina (Jessica Biel) que trabalha para a resistência, Chanceler Cohaagen (Bryan Cranston, da série Braking Bad) responsável pela polícia, e Kuato, ou Quatto (O sempre interessante Bill Nighy), líder da resistência.  Além do ambiente no qual é situada a narrativa há uma grande mudança em relação ao protagonista. Não há dúvidas de que Collin Farrel dramaticamente é muito superior a Schwarzenegger, mas fisicamente falando o segundo leva vantagem. Cientes disso os realizadores alteraram o foco do personagem de força bruta para a agilidade e inteligência em algumas cenas. Se no longa anterior Arnold usava sua força para se soltar da cadeira e escapar, aqui, na mesma cena, o personagem de Farrel age rápido e calcula precisamente cada movimento seu. Isto é muito interessante e mais inerente ao personagem. Aliás, seria se o filme trabalhasse essa característica do protagonista ao invés de usar de forma isolada, dando a impressão de que Quaid tem certas habilidades que aparecem num ponto da narrativa, mas somem na cena seguinte... 



Comparando os dois filmes, este é muito inferior ao de 1990. Se no original o protagonista toma uma decisão em relação a um personagem após perceber que escorre suor de sua testa, aqui ele tem a mesma atitude ao ver lágrimas no rosto de uma terceira pessoa, e que no momento não soa verossímil, dando a impressão de ser apenas uma maneira que o roteirista encontrou de alterar a cena da obra anterior mantendo o mesmo resultado final, o qual na verdade fica comprometido. Outras falhas e fatos absurdos corroboram para a perda de qualidade. Por exemplo, o momento no qual Melina aparece inexplicavelmente e salva Quaid no meio da autopista. Como ela apareceu ali? Como saberia que após uma fuga toda desajeitada ele fosse precisar de ajuda bem ali no meio?  E o que dizer do Chanceler, o líder ou um dos líderes do governo, ir ao campo de batalha comandando um exército? Não faz o menor sentido!  Ainda sobre o roteiro, há uma tentativa de homenagear o filme anterior: naquela obra o protagonista utilizava um dispositivo para enganar os guardas se disfarçando holograficamente como uma senhora robusta. Numa determinada cena desta adaptação, vemos a mesma atriz do filme anterior, e quem viu o original poderia pensar que o personagem estava utilizando o mesmo disfarce, entretanto o diretor estraga nossa surpresa ao revelar numa cena anterior que aparência Douglas usará... Embora com muitos defeitos preciso admitir que algumas cenas de ação foram muito bem executadas, como aquela no centro da Rekall quando Quaid enfrenta diversos policiais, e sua fuga pela cidade, com bons momentos de parkour.

O design de produção do filme realmente chama atenção, mas não pela originalidade e sim, por misturar elemento de três outras obras. A Colônia tem um visual muito semelhante ao da cidade futurística mostrada em Blade Runner- O Caçador de Andróides. Vemos amontoados de residências, barracas de comida, cenas externas noturnas e com chuva. Quando vemos veículos não há como não lembrar de Minority Report- A Nova Lei, de Steven Spielberg.  Os carros flutuantes, as pistas, o tráfego, tudo isso remete a este longa. Os robôs brancos e com aparatos tecnológicos são muito parecidos com os clones da saga Star Wars. Alguns dirão que são homenagens. Mas é impossível ver por esse prisma. Quando se homenageia uma obra você cria uma cena com o contexto da mesma, de forma a mencionar, brincar ou repetir de outro jeito aquela. Algo que não acontece aqui.



Sendo mais longo que o esperado, devido a uma tola e imbecil tentativa de reviravolta no final, que serve apenas pra testar o nível de inteligência dos espectadores, por que com o mínimo de intelecto você notará que aquilo não faz qualquer sentido, esse O Vingador do Futuro foi apenas idealizado com o objetivo de arrecadar dinheiro. Mas também o que podemos esperar de uma obra dirigida por Len Wiseman, responsável pelos ridículos Anjos da Noite, Anjos da Noite A Evolução, e Duro de Matar 4.0. Felizmente diferente da proposta da Rekall, as memórias deste filme não devem durar muito nas mentes dos espectadores. Caso ainda não tenha visto o original, vá agora mesmo assistir, e tenho certeza que também se rebelará contra esta adaptação.
 

sábado, 18 de agosto de 2012

Resenhas 01/08/2012 a 10/08/2012



Intrusos (Intruders)
100 min – Suspense- 2012 - Estados Unidos /Espanha
Roteiro: Nicolás Casariego, Jaime Marques
Direção: Juan Carlos Fresnadillo
Elenco: Clive Owen, Carice van Houten, Izán Corchero

O filme tem um começo promissor, e eficaz ao criar uma boa cena de terror introdutória na qual um garoto e sua mãe falam sobre um conto de terror e têm que lidar com uma ameaça que ambos não entendem, passado em algum lugar da Espanha. Em seguida vamos para uma cidade da Inglaterra, onde conhecemos uma família, e observamos sua pacata vida até que a filha pequena encontra um caderno dentro de uma árvore falando sobre uma entidade misteriosa... Clive Owen interpreta o pai da garota, e faz um bom trabalho. Com muita naturalidade mostra veracidade em sua relação com a menina, e a forte união entre ambos. A trama do filme é fraca, boba e com muitos furos, embora exista uma revelação muito interessante que mesmo assim não o salve do fracasso, culminando num final bobo que faz jus ao restante da projeção. 









Jogos Vorazes (The Hunger Games)
142min – Ação - 2012 - Estados Unidos
Roteiro: Gary Ross, Suzanne Collins, Billy Ray
Direção: Gary Ross
Elenco: Jennifer Lawrence, Liam Hemsworth, Elizabeth Banks, Josh Hutcherson, Woody Harrelson

Jogos Vorazes (The Hunger Games, 2012) Baseado no livro de mesmo nome, o filme mostra uma competição que acontece anualmente envolvendo dois jovens, uma garota e um garoto, de cada região da fictícia Panem, obrigados a lutar até que apenas um sobreviva. Merece destaque por ser uma ácida crítica a estas porcarias de reality show que apenas deixam as pessoas mais burras e ignorantes, a exemplo de Big Brother e A Fazenda. A banalidade da violência é uma mostra de que não há limites para estes programas, que chegam inclusive a ilustrar como as regras podem ser mudadas em função da audiência. A história é razoavelmente bem conduzida, mas a direção de Gary Ross é horrorosa, falhando em criar suspense em todas as cenas nas quais ele tenta, como por exemplo aquela na qual a protagonista alveja uma maçã ao invés do alvo de treinamento, surpreendendo a todos os presentes, menos a platéia do filme. Essa deficiência torna tudo muito previsível, tirando o impacto esperado de muitas cenas.






Lola (LOL)
97 min – Comédia/Drama/Romance - 2012 - Estados Unidos
Roteiro: Liza Azuelos, Kamir Aïnouz
Direção: Lisa Azuelos
Elenco: Miley Cyrus, Demi Moore, Douglas Booth, Ashley Greene

No início de um novo ano escolar, Lola (Miley Cyrus), tem que lidar com o término do namoro ao mesmo tempo em que começa a enxergar seu melhor amigo de forma diferente. Enquanto isso sua mãe Anne (Demi Moore) precisa apoiar a filha e lidar com o relacionamento em segredo que mantém com o ex-marido. Refilmagem do filme francês de mesmo nome de 2008, LOL (Laughing Out Loud) , que não vi. Este Lola mostra uma trama boba que começa no nada e termina em lugar algum. O roteiro é tão ruim que precisa fazer uso de flashbacks referentes a cenas quase sem importância para preencher noventa minutos de projeção. Cyrus precisa seguir a careira de cantora apenas, onde talvez seja boa (não conheço seu trabalho), por que não tem qualquer vocação pra atuar. A diretora insiste em muitos raccords visuais que intercalam momentos íntimos da mãe, e da filha. O ponto alto do filme é sua trilha sonora, de You Can’t Always Get What You Want do  Rolling Stones, passando por I’m Gonna Love You Just a Little Bit More, Babe de Barry White, até Somewhere Only We Know  do Kane.

 


 




Some Guy Who Kill People (Ainda sem título official no Brasil)
142min – Comédia/Suspense - 2012 - Estados Unidos
Roteiro: Ryan A. Levi
Direção: Jack Perez
Elenco:  Kevin Corrigan, Barry Bostwick, Karen Black


Um fracassado de trinta e quarto anos recém saído de uma instituição para tratamento psiquiátrico, vive com sua mãe e trabalha numa lanchonete local, enquanto alguns crimes extremamente violentos e misteriosos começam a acontecer na cidade. Embora o início seja promissor, com um sonho em preto e branco do protagonista, e a forma como o mesmo parece reagir ao mundo (alienado e sem se importar muito com nada), conforme o filme progride vai se tornando mais desinteressante. Muito se deve às tentativas de tiradas cômicas que sempre falham. Isso inclui mudar completamente as atitudes de alguns protagonistas na tentativa de nos fazer rir. Cito como exemplo o xerife que sendo pressionado pela resolução do crime oscila entre preocupado, não dando a mínima e tentando ser engraçado. Tudo acaba soando como um teatrinho de escola. O protagonista também age dessa forma, porém em menor escala. Há uma reviravolta, que não faz muito sentido e para ser aceita é necessário que se cubra diversos furos no roteiro. O filme não foi lançado comercialmente por aqui, e mesmo se fosse duvido que alguém veria.






Os Crimes de Snowtown (Snowtown)
119 min – Drama - 2012 - Austrália
Roteiro: Shaun Grant, Justin Kurzel
Direção: Justin Kurzel
Elenco:  Lucas Pittaway, Daniel Henshall, Louise Harris

Baseado em fatos reais, inicialmente somos introduzidos a uma família no interior da Austrália cujos três filhos mais novos sofrem abuso nas mãos de um vizinho, num dia em que este toma conta delas. Após o episódio um grupo de moradores se reúne e liderados por Jonh Bunting, levantam outros casos de abusos cometidos na região e começam a organizar planos para retaliar os agressores. Bunting passa a ter uma participação maior na família, após iniciar um relacionamento com a mãe dos garotos, embora não tenha a aprovação do filho mais velho. Os outros três começam a se apegar a nova figura paterna, especialmente do protagonista, Jamie (Lucas Pittaway, numa performance fantástica). È sob a perspectiva do rapaz que somos conduzidos o restante do filme. Os personagens são muito bem trabalhados. Jonh surge amoroso e carinhoso com as crianças, e parece ser o amor por eles que o motiva a ir atrás dos molestadores... Com o tempo vamos percebendo que talvez isso seja apenas uma desculpa, e o personagem mostra-se cada vez mais assustador. O diretor consegue conduzir muito bem os atores, incluindo as crianças, e com muito realismo nos traz uma história aterrorizante, fazendo um belíssimo filme. O único aspecto negativo diz respeito à direção de arte, que acaba se atrapalhando com as locações e não deixa claro onde ocorrem algumas cenas. Em muitas delas temos dificuldade para nos situarmos.










Taxi Driver (Taxi Driver)
119 min – Drama - 1976 – Estados Unidos
Roteiro: Paul Schrader
Direção: Martin Scorsese
Elenco: Robert De Niro, Jodie Foster, Cybill Shepherd, Harvey Keitel

A tela toda enfumaçada no início da projeção é justamente uma referência à mente do protagonista. Travis Bickle (De Niro, em atuação fenomenal) é um veterano de guerra que tem uma vida extremamente solitária, e devido a não conseguir dormir resolve trabalhar como taxista doze horas por dia, de tardezinha até de manhã.  Vemos a transformação do sujeito que sem conseguir se relacionar socialmente vai transformando-se num maníaco, uma bomba-relógio pronta pra explodir. O longa é uma grande crítica a sociedade preconceituosa e que possuí indivíduos perigosos tanto para o mundo quanto para eles próprios. A trilha sonora em acordes de jazz é maravilhosa por combinar tão perfeitamente com a cidade de Nova York, e ao criar uma tensão constante e crescente, sendo responsável por nos instituir uma agonia dando a impressão de que uma tragédia está sempre prestes a acontecer.  Scorsese já mostra neste filme uma direção segura e brilhante, incluindo aqui o momento embaraçador de Travis que ao telefone tenta se desculpar com a garota pelo último encontro fracassado, no qual a levou para ver um filme pornográfico.