E aí... Comeu?
111 minutos - Comédia - 2012 (Brasil)
Roteiro: Marcelo Rubens Paiva, Lusa Silvestre
Direção: Felipe Joffily
Elenco: Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira, Emílio Orciollo Neto, Seu Jorge, Dira Paes, Tainá Mϋller, Juliana Schalch, Laura Neiva
Não há como falar de “E aí...
Comeu?” sem comentar seu trailer nos cinemas. Nele vemos Honório (Marcos Palmeira),
Fernando (Bruno Mazzeo), e Fonsinho (Emílio Orciollo Neto) numa mesa de bar
falando sobre o filme que eles iriam fazer, dando a impressão de que seria algo
informal e o mais real possível. Bringando com os personagens e comparando a
característica deles com a de suas vidas de verdade. Com o slogan: A primeira comédia verdadeira sobre o amor.
Mas a realidade do longa é
diferente e decepcionante. Adaptado da peça homônima de Marcelo Rubens Paiva, o
filme começa com um plano interessante no qual Honório no banheiro de um bar,
faz um monólogo que pra resumir seria algo como “A noite é nossa, vamos
conquistar as mulheres”. Interessante, bem enquadrado e pertinente a premissa “vendida”.
O problema é que nas cenas seguintes descobrimos que ele é casado e não tem
qualquer interesse em conhecer outras garotas ou trair sua esposa, Fernando
está separado da mulher, deprimido não parece ter intenção de encontrar ninguém,
e Fonsinho, só se interessa por “putas e mulheres casadas”, segundo afirmação
de seus amigos. Esse choque de idéias entre a cena inicial e os acontecimentos
seguintes já demonstra a bagunça na qual está inserido o filme.
Grande parte da narrativa se
passa num bar freqüentado todas as noites pelos personagens. Onde bebem,
reparam em garotas, falam de problemas do cotidiano e relatam experiências
anteriores. Para tentar criar um ar realista os diálogos são recheados de
palavras de baixo calão e xingamentos, sempre num tom elevado de voz. Eu disse
tentar, porque tudo parece extremamente artificial. Não há um relaxamente ou entrosamento
entre os amigos. O que se deve em parte à interpretação dos atores. È verdade
que muitas vezes homens se comportam assim, mas não “assim”. Será que nenhum
dos roteiristas pensou que os personagens poderiam sussurrar algumas frases, ou
abaixar o tom de voz em determinado momento? Por esse comportamento eles acabam
entrando em atrito com um grupo de garotas que também freqüenta o bar
diariamente. Não é estranho, criar desentendimento justamente com o alvo deles,
dado o discurso de abertura de Honório? E o pior é que os protagonistas não se
incomodam com isso, e não dão relevância ao grupo feminino. Dar razão ao grupo
de “machos” reforça ainda mais o caráter machista da história. Enfraquecendo
mais a premissa original e carregando o filme de artificialidade. Mas nada precisa fazer muito sentido já que
estamos presenciando uma barata tentativa de criar uma situação realista não é
verdade?
Ainda falando sobre o bar, a
película cresce imensamente quando entra em cena Seu Jorge, interpretando um
garçom também chamado por esse nome dado a semelhança com o próprio. Seu Jorge
ofusca todos os outros atores. À vontade ele fala de suas experiências, dá
conselhos e faz piada. E tudo parece muito natural, alcançando o tom certo e
tirando risos da platéia nas falas mais cômicas. Isso diminui ainda mais a
performance dos protagonistas, principalmente o péssimo Emílio Orciollo Neto,
incapaz de transmitir qualquer emoção, não que seu personagem ajude, mas...
Embora sempre se reúnam no
bar, muitas vezes neste são discutidos acontecimentos relativos aos três
personagens principais, de forma que o roteiro cria uma pequena trama para cada
um. Honório tem problemas com a esposa Leila (Dira Paes), ambos saem sozinhos
todos os dias, o distanciamento não é mostrado, mas a relação deles é relativamente
coerente, contudo o clímax é ridículo e óbvio. Com direito a uma cena de
perseguição patética, onde o diretor embora tente criar suspense presume que os
espectadores são idiotas, pois o desfecho é extremamente previsível. Fonsinho pretende
terminar seu livro, enquanto procura um relacionamento mais sério. Certo, isso
é normal. Mas como um homem experiente e que segundo o roteiro já teve milhares
de experiências, busca namorar uma mulher casada, ou casar com uma garota de
programa? Isso poderia ser fruto de uma experiência do passado, ou alguma
história mal resolvida, mas o roteiro não dá pistas de nada disso... Aliás, criar vínculo do personagem com uma
garota de programa apenas devido a uma conversa que eles mantêm num site de acompanhantes
é algo sem fundamento. Aqui é necessário fazer um pequeno elogio: o filme
retrata a conversa no chat através de
legendas na tela e não com narração dos personagens, felizmente, já que esse
outro modo soa artificial, e irritante. A subtrama mais razoável é a de Fernando,
lidando com o fato da separação com a esposa e o relacionamento com Gabi (Laura
Neiva), uma adolescente de 17 anos. È interessante, pois cria a possibilidade
de um cara mais velho fazer sexo com uma menor de idade, algo até certo ponto
corajoso por parte dos realizadores. E também promove o crescimento do
personagem trazendo a tona um dilema moral. Infelizmente o roteiro falha
miseravelmente quando ilustra a situação dele com sua ex-esposa Vitória (Tainá Mϋller).
Sendo machista desde uma cena na qual esta pede que o ex-marido carregue suas
malas pra fora de casa, passando por outra na qual mostra a indecisão como comportamento
“típico” das mulheres, e fechando com uma confissão sobre o seu futuro e a
razão de tomar essa atitude.
Como vimos o roteiro têm
muitos problemas, mas outro ponto crítico do filme é a direção. Sem uma boa performance
nesse aspecto alguns atores extrapolam e outros não conseguem atingir a
dramaticidade necessária. Tudo fica muito claro quando os protagonistas estão
bêbados e resolvem encontrar um sujeito no meio da madrugada. Numa cena os
vemos falando alto, sem coordenação e atrapalhados com as próprias palavras, na
seguinte, normais fazendo discursos lúcidos, num próximo momento voltam a
parecer embriagados... Nessa parte do filme reparamos ainda mais no desempenho
de Emílio que é péssimo, incluindo a conversa deste, sentado na sarjeta com a
garota de programa Lana. Ainda falando em direção, não podemos deixar de
mencionar as constantes incursões de Marcos Palmeira quebrando a 4ª parede e
falando com o público. Mal utilizado e deselegante, o recurso destrói ainda
mais o longa, atirando o espectador pra fora da tela e quebrando a já fraca
narrativa. Chega ao cúmulo de Honório “invisível”, numa cena íntima entre Fonsinho
e uma garota, ensinar a mesma a fazer sexo oral, num esforço desesperado de
fazer os espectadores rirem.
Não cheguei à conclusão se a
idéia inicial do filme era aquela mostrada nos trailer, ou se a incompetência
dos realizadores levou a este outro caminho, de qualquer forma o “realismo” do
filme pode incomodar, como beber um pouco a mais na noite anterior, mas
certamente será esquecido mais rapidamente do que uma conversa boba com seus
amigos no bar.