segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

CRÍTICA: Star Wars : Episódio VII - O Despertar da Força



Star Wars: Episode VII – The Force Awakens - Estados Unidos - 2015
Direção: J.J Abrams.
Roteiro: Lawrence Kasdan, J.J Abrams e Michael Arndt.
Elenco: Harrison Ford, Carrie Fisher, Peter Mayhew, Daisy Ridley, Jonh Boyega, Oscar Isaac, Domhnall Gleeson, Kylo Ren.

Após 10 anos, volta às telas um novo capítulo da saga Star Wars, com a promessa deixar um pouco de lado a ultima desastrosa trilogia e dar continuidade ao mundo habitado pelos personagens clássicos e queridos da saga original que deixaram os cinema há 32 anos.

Embora o final apresentado em o Retorno de Jedi, filme cronologicamente anterior a este, nos leve a crer que o mundo foi “salvo”,  pouco parece ter mudado naquela galáxia: a  aliança rebelde agora se chama Resistência, continua em desvantagem e lutando contra o império, agora chamado de a  Primeira Ordem. Basicamente todos os elementos e acontecimentos do filme original estão aqui, com pequenas alterações. Esse é um dos fatores que faz esse O Despertar da Força parecer mais uma refilmagem de Uma Nova Esperança do que um novo capítulo da saga. Todas as situações vistas lá ocorrem aqui, de maneira diferente, em momentos adversos, com pessoas diferentes. A personagem principal mora num planeta deserto; um andróide possui informações importantes e é disputado pelos dois lados; um planeta é destruído;  os protagonistas visitam um bar/cantina em busca de um transporte para outro planeta; um personagem é preso e torturado, e mais coisas que estragariam a experiência se mencionadas.

É muito bom rever os heróis da antiga trilogia, ainda extremamente carismáticos mas já deslocados a outras funções na narrativa, e interessante começar a conhecer os novos. Han Solo (Ford) volta a ser um contrabandista junto com Chewbacca (Peter Mayhew, por baixo do traje) enquanto que Léia (Carrie Fisher) agora é general da Resistência. Os novos rostos são Poe (Oscar Isaac) como o melhor piloto da Resistência, Domhnall Gleeson como Hex, general do Primeiro Comando, Kylo Ren (Adam Driver), Rey (Daisy Ridley) e Finn (Jonh Boyega), cujas funções prefiro não comentar para não estragar algumas surpresas da trama.

A parte visual é impecável, além de mostrar uma coerente evolução da tecnologia daquele mundo nos traz novas criaturas e raças alienígenas. A mixagem de som também merece destaque, até mesmo o característico som dos sabres de luz recebeu pequenas alterações tendo uma nova textura sonora bem interessante.

O universo é bem retratado e o roteiro apresenta muitas referências a falas e situações anteriores das personagens, em alguns momentos satirizando acontecimentos que já presenciamos, destaque para quando os protagonistas fogem e Finn segura na mão de Rey, que reclama e critica aquilo, o que é um pequeno gesto feminista mostrando a independência da garota e satirizando a fuga de mãos dadas de Luke e Léia no filme original. 

Aliás este é justamente o ponto alto do filme: colocar em evidências minorias sem necessariamente expor ou explorar isso. O protagonista é mulher e completamente independente, e o segundo personagem mais importante é negro. Pode parecer pouco, mas levando em conta que estamos falando de um filme de altíssimo orçamento de Hollywood e responsável por uma legião de fans... 

Como muito não foi contado, há um salto de mais de 30 anos entre o episódio VI e este filme, muitas informações são dadas pelos personagens de forma expositiva, o que enfraquece um pouco a trama (confesso que muitas coisas que foram contadas parecem mais interessantes que a própria narrativa do filme, e talvez sejam ilustradas por algum outro filme, ou no capítulo seguinte). 

Justamente por ser uma espécie de refilmagem do original, em muitos aspectos a trama acaba sendo previsível,  e pode decepcionar um pouco  aqueles que buscam elementos novos. Há também algumas situações que são incoerentes, como determinada cena de luta de Kylo Ren com outro personagem, não faz o menor sentido a forma como é conduzido o combate e menos ainda seu desfecho, levando em conta tudo que vimos o personagem fazer antes. Ainda sobre Kylo Ren, há um elemento bastante interessante. Se nos outros filmes havia a tentação do lado negro,  aqui esse personagem é tentado pelo “lado da luz”. O que é reforçado pelo conflito presente no personagem e bem elucidado, graças à boa atuação de Adam Driver. 

J.J Abrams, com a experiência obtida em Star Trek, consegue fazer um belo trabalho, impondo um agradável ritmo á narrativa, dando fôlego novo a essa franquia e apagando um pouco da imagem ruim deixada pela trilogia mais recente (Embora o Episódio III seja muito bom, seus dois antecessores falham em todos os sentidos). 

Esse Star Wars Episódio VII – O Despertar da Força, mostra que novos heróis surgem pra substituir os que ficaram velhos e combater as mesmas ameaças que aparecem de maneiras diferentes, em suma ensina que o tempo é inexorável e a vida é cíclica. Resta agora aguardarmos quase dois anos, para acompanharmos mais do desenvolvimento dos novos heróis e o destino dos antigos.




Adriano Cardoso



sexta-feira, 6 de março de 2015

CRÍTICA: Para Sempre Alice



Still Alice
101 minutos - Drama - Estados Unidos - 2015
Direção: Richard Glatzer e Wash Westmoreland
Roteiro: Richard Glatzer e Wash Westmoreland baseado no romance de mesmo nome escrito por Lisa Gênova
Elenco: Julianne Moore, Alec Baldwin, Kristen Stewart, Kate Bosworth

Alguns filmes são lembrados por sua bela fotografia, outros por uma direção de arte complexa, enquanto muitos apenas pela atuação de seu protagonista, que é o caso deste "Para Sempre Alice".

Tendo início com um close (recurso usado extensamente no longa) do rosto da protagonista num jantar de família quando esta comemora 50 anos de vida, o filme narra a vida de Alice (Moore) desde que começa a apresentar os primeiros sinais de um precoce mal de Alzheimer. A partir daí acompanhamos a evolução da doença e a maneira como a protagonista e sua família lidam com esta situação.

Utilizando se de muitos planos fechados, os diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland nos passam a todo instante a sensação de claustrofobia e agonia, remetendo ás sensações vividas por Alice. Por diversas vezes o cineasta decide posicionar a câmera nas costas da protagonista e deixar fora de foco todas as outras pessoas que aparecem em cena, recurso que reforça para o espectador o desespero e o isolamento da personagem. 

Os idealizadores tentam utilizar como ferramenta narrativa saltos abruptos no tempo, para ilustrar melhor o caos mental da personagem principal. Embora interessante no início, o recurso começa a se mostrar preguiçoso e falho na medida em que confunde o próprio espectador com relação a passagem de tempo entre uma cena e outra. Aliás, tenta distrair quem assiste ao filme, uma vez que conforme o tempo passa percebemos como o roteiro é raso, desinteressante e sem grandes conflitos. Não existem subtramas, e exceção feita a um determinado evento (aguardado desde praticamente o início), o restante é muito previsível.

O elenco tem atuações impecáveis. Baldwin da vida a John Howland, carinhoso e paciente marido da protagonista, não suporta ver a esposa nessa situação e procura maneiras de escapar daquilo ao mesmo tempo em que sempre externa preocupação com a amada. Stewart nos convence como filha caçula e rebelde de Alice. Ao mesmo tempo que nos mostra a necessidade de confrontar os desejos conservadores que sua mãe projeta para seu futuro (sempre manifesta a vontade que a garota abandone a profissão de atriz e procure algo mais "sólido"), demonstra muita paciência e vontade para compartilhar partes de sua vida com ela. E por fim temos Julianne Moore, que não a toa, ganhou com este papel todos prêmios que disputou. A atriz constrói Alice com muita sutileza, desde os pequenos sinais do início da doença, até delicadas expressões de desconforto ou embaraço em situações que ocorrem. O que fica evidente quando discursa para outros portadores do mal de Alzheimer: já com bastante dificuldade utiliza um marca texto para ter certeza de onde parou na leitura, com articulação dificultada e falta de ritmo das palavras deixa bastante verossímil sua condição, nos emocionado com isso e ao mesmo tempo com a mensagem que deseja transmitir. 

Sem contar com uma trama mais elaborada e sem antagonistas (todos são sempre gentis e solidários), "Para Sempre Alice" embora levante a questão desta terrível doença para a sociedade, perde a oportunidade de explorar o preconceito e a discriminação que os portadores sofrem pelo restante do mundo, que não costuma entender as dificuldades e limitações dos doentes, tornando a vida dos mesmos ainda pior. O que fica em nossa memória é a brilhante atuação de Julianne Moore e a questão levantada sobre esta doença tão terrível, que faz com que as pessoas acometidas por ela se percam em suas mentes, e ainda vivas tenham suas personalidades falecidas para os amigos e parentes.


Adriano Cardoso









Filmes vistos em Fevereiro/2015

Segue abaixo a minúscula lista de filmes que assisti em fevereiro deste ano. Devido a novos compromissos está mais complicado ver uma quantidade razoável de títulos ao mês. Mas tentarei ao menos manter uma média mínima de três títulos por semana. Fiquem a vontade para discutir/comentar:

Birdman Ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (Estados Unidos/2015) *****
O Amor é Estranho (Estados Unidos/2014) ***
Invencível (Estados Unidos/2015) **
Santo Vizinho (Estados Unidos/2014) ***
Leviatã (Russia/2015) ****
Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo (Estados Unidos/2014) ***
Antes de Dormir (Inglaterra/2015) **
De Volta ao Jogo (Estados Unidos/2014) **
Clube de Compras Dallas (Estados Unidos/2013) ****
Sun of a Gun (Austrália/2014) **
Corações de Ferro (Estados Unidos/2014) ***
Two Man in Town (França/ Estados Unidos/ Argélia/ 2014) ***

Adriano Cardoso

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

CRÍTICA: Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo



Foxcatcher
129 minutos - Drama - Estados Unidos -2015
Direção: Bennect Miller
Roteiro: E. Max Frye, Dan Futterman
Elenco: Steve Carell, Channing Tatum, Mark Rufallo, Sienna Miller, Vanessa Redgrave

A história é centrada em Mark Schultz (Tatum) campeão olímpico de luta greco-romana que recebe  convite do recluso milionário John du Pont (Carell), para se mudar para o centro de treinamento Foxcatcher com o objetivo de se preparar e auxiliar outros atletas para próximas competições importantes.

O elenco tem boas atuações, embora a maquiagem nos personagens chamem mais atenção do que o desempenho dos atores. Tatum cria um sujeito disciplinado, centrado nos treinos e cujo único objetivo é vencer as competições. Vive a sombra de seu irmão David (Rufallo, que compõe um personagem maduro e preocupado com sua família, é um líder natural, ensina seu irmão e estuda cuidadosamente os adversários), e quer buscar a glória sozinho. Carell é o grande destaque. Interpreta du Pont com características únicas, ombros um pouco encurvados, andar lento, voz anasalada, embora de certa forma uma figura patética também sempre com um certo tom autoritário e ameaçador. O milionário resolve se tornar uma espécie de mecenas do esporte para alcançar glórias que nunca teve e ter alguma aprovação de sua mãe (Vanessa Redgrave). Conforme o filme avança o sujeito se torna mais megalomaníaco, obrigando os atletas a aparecerem em vídeos dando depoimentos sobre como ele os ajuda, inspira e os treina, quando na verdade ele pouco sabe sobre o esporte conhecendo mais com os ensinamentos de Mark e David.

A trilha sonora cria um ambiente de hostilidade e tensão, os sons trazem uma inquietação e sentimos que a qualquer momento John pode fazer alguma coisa impulsiva. O roteiro sabe criar essa tensão mas infelizmente não a desenvolve adequadamente. Em parte devido à adaptação da história (que altera diversos fatos, apenas para citar um exemplo: foi David quem se tornou amigo de du Pont e não Mark), estando o roteiro mais preocupado em causar surpresa com o clímax do filme do que em contar uma história crível e coesa. Por exemplo, durante um tempo Mark para de treinar e quando chega uma competição ele falha miseravelmente, entretanto logo se recupera e supera tudo com facilidade graças apenas ao auxílio e conselhos de seu irmão. A trama também acaba soando superficial em alguns aspectos, observamos diversos atletas treinando em Foxcatcher, mas nunca vemos como eles se saem nas competições, parecem ser apenas figurantes para David e Mark. 

Contando ainda com uma boa direção de arte, que dá ao filme um fiel clima da década de 80, incluindo utensílios das casas e designer do uniforme dos atletas, Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo, embora tenha um desfecho surpreendente (para quem não conhece a história), poderia ter sido muito mais se a preocupação dos roteiristas não fosse essa, mas sim a de contar uma história que se desenvolve de forma orgânica, mesmo que com final mais óbvio.


Adriano Cardoso

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Leviatã



Leviafan 
140 minutos - Drama - Rússia - 2015
Direção: Andrey Zvyagintsev
Roteiro: Oleg Negin, Andrey Zvyagintsev
Elenco: Aleksey Serebryakov, Elena Lyadova, Roman Madyanov

Neste filme o cineasta russo Andrey Zvyagintsev faz uma dura crítica social ao seu país. O alcoolismo é retratado, bem como maus tratos a mulheres e crianças, a influência da igreja e principalmente a corrupção. Recheado de belas imagens e personagens complexos, sob o olhar do diretor acompanhamos Nikolai que recorre a seu amigo advogado pois está em vias de perder sua casa para a prefeitura. Desde o início somos imersos num mundo recheado de burocracia e coberto de corrupção. O prefeito Vadim Shelevyat (uma clara caricatura do presidente russo  Voadmir Puttin, reparem como sempre fica visível o quadro do mandatário no gabinete do prefeito) parece inatingível e remove todos do seu caminho. Um retrato pessimista e triste, embora realista de uma das maiores nações do mundo, reforçado de maneira brilhante por paisagens ( o esqueleto de uma baleia na praia além de uma imagem assustadora faz referência a um gigante que apodrece na terra, mais uma referência ao país do cineasta) e por algumas imagens marcantes como a reconstrução de uma igreja (o ciclo do poder, onde o clero apoio os corruptos, a religião dá conforto aos corruptores, e no final a Igreja é recompensada).


Adriano Cardoso

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

CRÍTICA: Birdman Ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)



Birdman, or The Unexpected Virtue of Ignorance
119 minutos - Comédia/Drama - Estados Unidos - 2015
Direção: Alejandro González Iñarritu
Roteiro: Alejandro González Iñarritu, Nicolas Giacobone, Alexander Dinelaris, Armando Bo
Elenco: Michael Keaton, Edward Norton, Naomi Watts, Emma Stone, Andrea Riseborough, Zach Galifianakis

Riggan (Miachael Keaton)  é um ator famoso por uma franquia de filmes de super-herói da década de 90 que tenta provar seu valor num projeto da Broadway que adaptou de um livro, dirige, enquanto vive uma crise existencial e tem que lidar com a voz de seu antigo personagem com quem começa a interagir.

O que chama atenção logo de cara é a direção e a forma como o filme é conduzido: um longo plano sequência com cortes escondidos (até os 15 minutos finais, onde o diretor vê a necessidade de inserir novos elementos). Temos a impressão de que estamos ali no meio dos atores observando, girando em volta deles, sempre acompanhando alguém ou parado em determinado lugar esperando que determinada pessoa passe por ali para acompanhar algum detalhe de sua vida. É como se fôssemos mais um personagem da trama, o próprio Birdman, que acompanha a tudo calado e interage apenas com Riggan.

Além de ter um elenco grandioso, tem personagens complexos compostos cuidadosamente por seus intérpretes. Destaques para Edward Norton que dá vida a Mike um ator com certa fama na Broadway que não se importa com o que todos pensam e acredita que deve ser autêntico nos palcos (o sujeito diz que está o tempo todo atuando, exceto quando está em cena) , então se o personagem bebe, ele fica bêbado de verdade. Sempre arranca risos do público com sua espontaneidade e nos conflitos que cria devido a isso. Emma Stone é Sam, filha de Riggan recém saída de uma clínica de reabilitação, trabalha como assistente de seu pai e está quase o tempo todo no parapeito do edifício. Seus grandes olhos ajudam na sua interpretação, e embora demonstre um sentimento de rebeldia e mágoa com o pai, também não deixa de demonstrar preocupação e carinho. Há uma cena fantástica na qual a atriz discute com seu pai, dizendo a ele que não é pela arte que está fazendo a peça e sim porque quer fazer algo relevante como todas as pessoas no mundo. E chegamos a Riggan, vivido por Keaton de forma intensa, cujas emoções de um instante para outro, algumas vezes quase catatônico, chegando a intenso entusiasmo quando recebe a notícia de que Mike substituirá um ator medíocre de sua peça que se acidentou. Conforme vamos conhecendo mais vemos como ele está se perdendo, o aumento do seu conflito e crise existencial. Um ator que já foi uma estrela de cinema agora cheio de dívidas, confinado a um camarim pequeno e empoeirado que "fede a testículos" como ele mesmo diz. 

O diretor também é grande responsável pelo desempenho do elenco, utilizando muitas vezes close no rosto dos atores e deixando eles atingirem seu potencial nas cenas mais dramáticas (como na conversa entre Riggan e uma crítica de teatro, ou na já mencionada cena entre Sam e seu pai). Embora aqui e ali tenha sua carga dramática, o filme é repleto de cenas cômicas, como aquela do protagonista andando de cueca e descalço pela rua molhada da Broadway, nos passando a impressão de ser um "homem-galinha" andando rápido, uma clara paródia ao super-herói que interpretou no passado, e que dá título ao filme.

O roteiro é inteligente, e vai nos dando pistas dos acontecimentos vagarosamente, enquanto aprendemos a apreciar mais os personagens e vamos entendendo a conexão da peça ensaiada com a vida do protagonista. Enquanto isso, a trilha sonora composta basicamente por sons de uma bateria, uma alusão ao espetáculo teatral, mas que também demostram a urgência e confusão que se passa na cabeça de Riggan, tornando o caos apresentado ainda mais óbvio quando no caminho para o ato final da peça vemos um sujeito tocando o instrumento numa sala (e também da cena que se segue ao final da peça). Com um final bastante satisfatório, embora possa decepcionar alguns espectadores, Birdman, ao contrário da impressão que Riggan deixou aos fans do seu filme, ficará  marcado por muito tempo em nossas mentes.


Adriano Cardoso

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Invencível




Unbroken
Direção: Angelina Jolie.
137 minutos - Drama - Estados Unidos - 2015
Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen, Richard LaGravenese e William Nicholson, baseado no livro escrito por Laura Hillenbrand.
Elenco: Jack O'Connell, Takamasa Ishihara, Domhnall Gleeson.

Primeiro filme de Angelina Jolie como diretora, narra acontecimentos vividos pelo atleta olímpico Louis Zamperini (Jack O'Connell), feito prisioneiro de guerra pelos japoneses durante a segunda guerra mundial. 

As cenas inicias do filme nos colocam no meio de um bombardeio aéreo, conduzido de forma muito realista e bem planejada, onde somos apresentados ao protagonista e alguns de seus companheiros. Os personagens não são muito bem desenvolvidos, sendo que o "vilão" é completamente unidimensional (qual o sentido de bater em Louis ou de se sentar ao lado do personagem e dizer que são amigos?).

Embora tenha muitas virtudes técnicas (os efeitos especiais das cenas de guerra, o figurino e a fotografia do filme são muito bem executados), deixa muito a desejar na parte dramática, culminando num clímax patético cujo único objetivo é trazer alguma emoção aos espectadores já enjoados das cenas de tortura e violência gratuitas (cujo objetivo nunca fica muito claro). 

Não sei se fiquei mais surpreso ao descobrir que o filme foi escrito com participação dos brilhantes irmãos Coen (Ethan e Joel, cuja filmografia é no geral excepcional incluindo Onde os Fracos não Têm Vez e Fargo, apenas para citar duas de suas obras premiadas), ou se pelo fato de precisar pesquisar sobre quem eram os roteiristas do filme. Esse longa praticamente nada tem a ver com os trabalhos realizados por esta dupla.

Mesmo com uma cadência muito lenta, em especial em seu segundo ato cujo final é bastante previsível, esse O Invencível será esquecido por nós num ritmo quase tão rápido quanto do protagonista nas provas que disputou.


Adriano Cardoso

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Filmes vistos em Janeiro/2015

Segue abaixo lista dos filmes que assisti nesse mês de Janeiro. Fiquem a vontade para discutir e ou comentar!

TÍTULO
AVALIAÇÃO
Caçada Mortal (Estados Unidos-2014)
**
A Entrega (Estados Unidos-2014)
**
A Teoria de Tudo (Reino Unidos-2015)
***
A Testemunha (Estados Unidos-1985)
****
As Duas Faces de Janeiro (Estados Unidos-2014)
***
Boyhood - Da Infância à Juventude (Estados Unidos-2014)
*****
Ensina-me a Viver (Estados Unidos/1971)
*****
Exôdo: Deuses e Reis (Estados Unidos/Reino Unido/2014)
**
Frank (Reino Unido-2014)
****
Garota Exemplar (Estados Unidos-2014)
*****
Grandes Olhos (Estados Unidos-2015)
***
Livre (Estados Unidos-2015)
***
O Estranho Thomas (Estados Unidos-2013)
**
O Jogo da Imitação (Reino Unido/Estados Unidos-2015
****
O Quinto Poder (Estados Unidos/2013)
**
Pride (Reino Unido-2014)
****
Quase Famosos (Estados Unidos-2000)
****
Relatos Selvagens (Argentina-2014)
****
The Normal Heart (Estados Unidos-2014)
****
Tickle Head, O Melhor Lugar da Terra (Canadá-2013)
****
Uma Boa Mentira (Estados Unidos-2014)
****
Whiplash - Em Busca da Perfeição (Estados Unidos-2014)
*****

Adriano Cardoso

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

CRÍTICA: A Teoria de Tudo


The Theory of Everything
123 minutos - Drama - Reino Unido - 2015
Direção: James Marsh
Roteiro: Anthony McCarten, baseado no livro escrito por Jane Hawking
Elenco: Eddie Redmayne, Felicity Jones, Tom Prior

Quem é Stephen Hawking e o que ele fez de importante para a humanidade? Estas são as perguntas que nos fazemos após assistir a este A Teoria de Tudo. O filme começa com Hawking (Eddie Redmayne) correndo de bicicleta com um amigo em Cambridge, então o vemos numa festa no campus onde de forma não muito orgânica ele conhece Jane (Felicity Jones) e acompanhamos então a progressão de sua vida, passando pelo diagnóstico de sua doença, seu casamento e suas publicações. 

Há cenas inspiradas como aquela na qual começamos a ver o close do olho de uma personagem sendo iluminado por uma lareira e através de um raccord  a formação do sol, ou então a cena na qual Hawking recebe o diagnóstico sobre sua doença: médico e paciente sentados lado a lado, o diretor utiliza lentes angulares e close no rosto do médico, dando a impressão  de aprisionamento, sufocamento,  e ao mesmo tempo podemos notar uma certa distorção de tudo ao redor, como se o mundo do protagonista ficasse deformado. Mas outras cenas nem tanto, como aquela patética na qual Hawking durante uma palestra vê a caneta de uma jovem cair e deseja ajudá-la.

A dupla de atores principais tem boas atuações. Jones mostra uma garota apaixonada e leal, querendo superar a expectativa de todas as pessoas próximas que não acreditam que ela teria forças pra isso, disposta a tudo para ficar ao lado de Hawking. Notas suas dificuldades e seu sofrimento, especialmente conforme a doença do marido progride. Enquanto isso Redmayne, embora sabotado pelo roteiro, compõe um Hawking nada tímido e bem humorado, com uma semelhança física incrível a da persona original. Reparem nas pequenas mudanças e sutilezas, como por exemplo a caligrafia na lousa pouco antes de sua doença ser diagnosticada, ou então no rosto pendendo mais para o lado direito, algo que vai se acentuando conforme o filme e sua condição avançam.

Uma pena que o roteiro não contribua. Centrado na condição física de Hawking e no relacionamento do mesmo com Jane, nos obriga aceitar que Hawking é um gênio, que aquele aluno prodígio respondeu 9 de 10 questões impossíveis passadas por um professor horas antes da aula sem ver como ou o que ele pensou. Nunca vemos como é a maneira do sujeito de pensar, ou como elabora tais teorias que viraram livros importantíssimos e o fizeram ser reconhecido mundialmente como uma das mentes mais brilhantes. Outro grande problema diz respeito às adversidades: ninguém implica com ele ou com sua condição física, por onde passa é bem aceito e bem tratado. 

O Hawking que nos é apresentado tem ótimo senso de humor, mesmo levando em conta sua condição física, ficou famoso publicando livros importantes, mas após assistirmos a este A Teoria de Tudo, a razão de sua importância continua sendo tão indecifrável quanto a matemática empregada nas teorias que ele criou na realidade.


Adriano Cardoso

sábado, 31 de janeiro de 2015

Relatos Selvagens



Relatos salvages 
115 minutos - Drama/Comédia - Argentina - 2014
Direção: Damián Szifrón
Roteiro: Damián Szifrón
Elenco: Ricardo Darín, Leonardo Sbaraglia, Darío Grandinetti, Erica Rivas

Relatos Selvagens nos apresenta seis histórias diferentes sem conexão umas com as outras sobre alguns comportamentos humanos comuns, com desenvolvimento e consequências desesperados e absurdos. A única coisa em comum em todas as tramas é a "vingança", presente em alguma parte de cada conto. Temos uma vingança extremamente planejada, uma pessoa que se sensibiliza com uma história e resolve se vingar, uma vingança feita contra um sistema, alguém que se vinga da pessoa errada... 

Mesmo com pouco tempo os personagens são relativamente bem construídos, não sendo complexos mas, tampouco sendo apenas uma caricatura, servindo ao propósito das histórias. Temos um homem rico que quer livrar seu filho da prisão, o advogado aproveitador, o cidadão indignado com a burocracia e incompetência de servidores públicos, por exemplo.

Despertando risos com cenas inteligentes (os diálogos da primeira história são engraçadíssimos!), criando alguns momentos fortes de tensão (como nas cenas do personagem preso no carro na terceira trama), Relatos Selvagens nos prende do começo ao fim, e embora a quarta e a sexta história sejam um pouco mais longas do que o necessário, nos traz uma grata experiência esfregando na nossa cara as consequências de alguns sentimentos e frustrações comuns em nossa vida.


Adriano Cardoso

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

CRÍTICA: O Jogo da Imitação






The Imitation Game
114 minutos - Drama - Estados Unidos/Reino Unido - 2015
Direção: Morten Tyldum
Roteiro: Graham More, baseado no livro de mesmo nome de Andrew Hodges
Elenco: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode

O título do filme é uma referência ao principal trabalho públicado por Alan Turing (Benedict Cumberbatch) matemático prodígio e grande responsável por decodificar o código utilizado pelos alemães na segunda guerra mundial. O âmago do filme é confronto de investigadores que já na década de 50 acreditam que Turin seja um espião soviético, e assim vamos conhecendo mais sobre sua trajetória, seu trabalho e até mesmo sua infância.

Cumberbatch tem certamente uma das melhores perfomances de um ator no ano e cria um personagem extremamente complexo, despertando em nós repulsa, raiva, estranhamento, dó e risos. Um indivíduo isolado, que por vezes chega a gaguejar na tentativa de se expressar, arrogante não se intimida com autoridades, e cuja construção de sua máquina parece ser a salvação para sua solidão. Quando conhece Joan (Knightley, que consegue nos convencer como uma mulher inteligente e feminista num ambiente machista e retrógrado) seu universo se expande pois ele encontra alguém parecido com ele, uma pessoa que não se enquadra no ambiente e tem dificuldades de ser aceita, por razões que nem precisam ser explanadas.

A direção de arte é bastante eficaz na recriação de época, desde o figurino até elementos de cena, como rádios e ferramentas. Enquanto a direção de Tyldum é segura, dando espaço para os atores empregarem suas emoções com cuidado, sabendo alternar bem entre cenas passadas e do presente do protagonista.

O filme flui de forma orgânica, e o roteiro é hábil ao ir revelando aos poucos mais sobre seu complexo protagonista, e embora o final seja óbvio e conhecido é gratificante ver a crítica feita pelos idealizadores à repressora e arcaica sociedade inglesa, cuja monarca concedeu anistia a Turing por seus "crimes" (leia ser homossexual, algo proibido até quase o final da década de 60) em 2013.



Adriano Cardoso

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Grandes Olhos





Big Eyes
106 minutos - Drama - Estados Unidos - 2015
Direção: Tim Burton
Roteiro: Scott Alexander, Larry Karaszewski
Elenco: Amy Adams, Christoph Waltz,  Terence Stamp

A história se passa nas décadas de 50-60 e nos apresenta a Margaret (Amy Adams), mãe solteira que acaba de se separar do marido opressor e busca trabalho na Califórnia. Artista cuja única inspiração é sua filha, conhece Walter Keane, (Christoph Waltz) que pouco depois a pede em casamento, uma maneira também de Margaret manter a guarda da filha contestada pelo marido numa sociedade extremamente machista. Keane tenta vender seus quadros e os de sua esposa sem muito sucesso até que um incidente nos tablóides atraí a atenção de pessoas, entretanto elas se interessam apenas pelos quadros de sua esposa, que inicialmente são acidentalmente associados a Walter, pois Margaret agora está assinando com o sobrenome Keane... Embora a vida se torne inicialmente um paraíso para a protagonista, logo surge um sentimento de angústia e frustração por trabalhar arduamente e ver seu trabalho associado a outra pessoa, o que é o conflito central do filme. 

O casal de protagonistas se sai muito bem. Adams interpreta com maestria uma mulher que sofre uma violência psicológica quase imperceptível, fazendo as vontades do marido, se distanciando de amigos e da filha. Waltz tem uma grande atuação, o jeito do personagem por diversas vezes nos leva ao riso, até o começo do terceiro ato, onde seu comportamento soa desproporcional e atrapalha o andamento do filme na tentativa de extrair risos forçados da plateia. O roteiro sabota o filme a partir de seu segundo ato com reviravoltas cuja função é apenas mover a história numa determinada direção, chegando a ficar insuportável em seu ato final.  

A direção de arte, algo sempre marcante nos trabalhos de Tim Burton, aqui também se faz presente, sendo possível inclusive notar uma diferença nas cores dos objetos e figurinos dos personagens a medida que vão se tornando mais infelizes (por exemplo o sofá vermelho vibrante, que dá lugar a um verde monótono), ou no caso de Margaret, conforme se torna mais sufocada. Um filme que ao contrário dos quadros de olhos grandes, não vai virar moda ou fazer qualquer sucesso.


Adriano Cardoso

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Livre



Wild
115 minutos - Drama - Estados Unidos - 2015
Direção: Jean-Marc Valée
Roteiro: Nick Hornby, Cheryl Strayed
Elenco: Reese Whiterspoon, Laura Dern, Thomas Sadoski, Michiel Huisman

Baseado em uma história real Livre narra a jornada de Cheryl Strayed (Reese Whiterspoon) que percorreu todo o percurso andou mais de 100 dias o percurso  da Costa do Pacífico, que vai da fronteira dos Estados Unidos com o México até o Canadá. A história da protagonista vai sendo revelada aos poucos, a medida que ela vai se lembrando de acontecimentos marcantes na sua vida, com relação às adversidades encontradas na viagem. Infelizmente a direção não ajuda tanto, sendo que os problemas e adversidades encontradas pela protagonista nunca chegam a nos atingir, muito se deve ao fato do filme ir e vir o tempo todo (o que muitas vezes é algo bom uma vez que vamos conhecendo mais da protagonista e de sua história de forma orgânica), tirando o nosso foco do que está acontecendo no momento, e quando a história retorna ao presente já não estamos mais envolvidos com aquele acontecimento e a adversidade é resolvida rapidamente. Contando com ótimas apresentações das atrizes principais (Whisterspoon carrega praticamente o filme todo nas costas com uma personagem complexa e que mostra seus medos angústia e força de superação, enquanto Laura Dern, mostra uma mãe doce e presente que serve de motivação para a Filha nos momentos mais difíceis) Livre é um bom filme, com fortes personagens femininas, uma história convincente e belas paisagens.


Adriano Cardoso