segunda-feira, 30 de julho de 2012

CRÍTICA: E aí... Comeu?


E aí... Comeu?
111 minutos - Comédia - 2012 (Brasil)
Roteiro: Marcelo Rubens Paiva, Lusa Silvestre
Direção: Felipe Joffily
Elenco: Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira, Emílio Orciollo Neto, Seu Jorge, Dira Paes, Tainá Mϋller, Juliana Schalch, Laura Neiva



Não há como falar de “E aí... Comeu?” sem comentar seu trailer nos cinemas. Nele vemos Honório (Marcos Palmeira), Fernando (Bruno Mazzeo), e Fonsinho (Emílio Orciollo Neto) numa mesa de bar falando sobre o filme que eles iriam fazer, dando a impressão de que seria algo informal e o mais real possível. Bringando com os personagens e comparando a característica deles com a de suas vidas de verdade. Com o slogan: A primeira comédia verdadeira sobre o amor.

Mas a realidade do longa é diferente e decepcionante. Adaptado da peça homônima de Marcelo Rubens Paiva, o filme começa com um plano interessante no qual Honório no banheiro de um bar, faz um monólogo que pra resumir seria algo como “A noite é nossa, vamos conquistar as mulheres”. Interessante, bem enquadrado e pertinente a premissa “vendida”. O problema é que nas cenas seguintes descobrimos que ele é casado e não tem qualquer interesse em conhecer outras garotas ou trair sua esposa, Fernando está separado da mulher, deprimido não parece ter intenção de encontrar ninguém, e Fonsinho, só se interessa por “putas e mulheres casadas”, segundo afirmação de seus amigos. Esse choque de idéias entre a cena inicial e os acontecimentos seguintes já demonstra a bagunça na qual está inserido o filme.

Grande parte da narrativa se passa num bar freqüentado todas as noites pelos personagens. Onde bebem, reparam em garotas, falam de problemas do cotidiano e relatam experiências anteriores. Para tentar criar um ar realista os diálogos são recheados de palavras de baixo calão e xingamentos, sempre num tom elevado de voz. Eu disse tentar, porque tudo parece extremamente artificial. Não há um relaxamente ou entrosamento entre os amigos. O que se deve em parte à interpretação dos atores. È verdade que muitas vezes homens se comportam assim, mas não “assim”. Será que nenhum dos roteiristas pensou que os personagens poderiam sussurrar algumas frases, ou abaixar o tom de voz em determinado momento? Por esse comportamento eles acabam entrando em atrito com um grupo de garotas que também freqüenta o bar diariamente. Não é estranho, criar desentendimento justamente com o alvo deles, dado o discurso de abertura de Honório? E o pior é que os protagonistas não se incomodam com isso, e não dão relevância ao grupo feminino. Dar razão ao grupo de “machos” reforça ainda mais o caráter machista da história. Enfraquecendo mais a premissa original e carregando o filme de artificialidade.  Mas nada precisa fazer muito sentido já que estamos presenciando uma barata tentativa de criar uma situação realista não é verdade? 



Ainda falando sobre o bar, a película cresce imensamente quando entra em cena Seu Jorge, interpretando um garçom também chamado por esse nome dado a semelhança com o próprio. Seu Jorge ofusca todos os outros atores. À vontade ele fala de suas experiências, dá conselhos e faz piada. E tudo parece muito natural, alcançando o tom certo e tirando risos da platéia nas falas mais cômicas. Isso diminui ainda mais a performance dos protagonistas, principalmente o péssimo Emílio Orciollo Neto, incapaz de transmitir qualquer emoção, não que seu personagem ajude, mas...

Embora sempre se reúnam no bar, muitas vezes neste são discutidos acontecimentos relativos aos três personagens principais, de forma que o roteiro cria uma pequena trama para cada um. Honório tem problemas com a esposa Leila (Dira Paes), ambos saem sozinhos todos os dias, o distanciamento não é mostrado, mas a relação deles é relativamente coerente, contudo o clímax é ridículo e óbvio. Com direito a uma cena de perseguição patética, onde o diretor embora tente criar suspense presume que os espectadores são idiotas, pois o desfecho é extremamente previsível. Fonsinho pretende terminar seu livro, enquanto procura um relacionamento mais sério. Certo, isso é normal. Mas como um homem experiente e que segundo o roteiro já teve milhares de experiências, busca namorar uma mulher casada, ou casar com uma garota de programa? Isso poderia ser fruto de uma experiência do passado, ou alguma história mal resolvida, mas o roteiro não dá pistas de nada disso...  Aliás, criar vínculo do personagem com uma garota de programa apenas devido a uma conversa que eles mantêm num site de acompanhantes é algo sem fundamento. Aqui é necessário fazer um pequeno elogio: o filme retrata a conversa no chat através de legendas na tela e não com narração dos personagens, felizmente, já que esse outro modo soa artificial, e irritante. A subtrama mais razoável é a de Fernando, lidando com o fato da separação com a esposa e o relacionamento com Gabi (Laura Neiva), uma adolescente de 17 anos. È interessante, pois cria a possibilidade de um cara mais velho fazer sexo com uma menor de idade, algo até certo ponto corajoso por parte dos realizadores. E também promove o crescimento do personagem trazendo a tona um dilema moral. Infelizmente o roteiro falha miseravelmente quando ilustra a situação dele com sua ex-esposa Vitória (Tainá Mϋller). Sendo machista desde uma cena na qual esta pede que o ex-marido carregue suas malas pra fora de casa, passando por outra na qual mostra a indecisão como comportamento “típico” das mulheres, e fechando com uma confissão sobre o seu futuro e a razão de tomar essa atitude.



Como vimos o roteiro têm muitos problemas, mas outro ponto crítico do filme é a direção. Sem uma boa performance nesse aspecto alguns atores extrapolam e outros não conseguem atingir a dramaticidade necessária. Tudo fica muito claro quando os protagonistas estão bêbados e resolvem encontrar um sujeito no meio da madrugada. Numa cena os vemos falando alto, sem coordenação e atrapalhados com as próprias palavras, na seguinte, normais fazendo discursos lúcidos, num próximo momento voltam a parecer embriagados... Nessa parte do filme reparamos ainda mais no desempenho de Emílio que é péssimo, incluindo a conversa deste, sentado na sarjeta com a garota de programa Lana. Ainda falando em direção, não podemos deixar de mencionar as constantes incursões de Marcos Palmeira quebrando a 4ª parede e falando com o público. Mal utilizado e deselegante, o recurso destrói ainda mais o longa, atirando o espectador pra fora da tela e quebrando a já fraca narrativa. Chega ao cúmulo de Honório “invisível”, numa cena íntima entre Fonsinho e uma garota, ensinar a mesma a fazer sexo oral, num esforço desesperado de fazer os espectadores rirem.

Não cheguei à conclusão se a idéia inicial do filme era aquela mostrada nos trailer, ou se a incompetência dos realizadores levou a este outro caminho, de qualquer forma o “realismo” do filme pode incomodar, como beber um pouco a mais na noite anterior, mas certamente será esquecido mais rapidamente do que uma conversa boba com seus amigos no bar.

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