quinta-feira, 2 de agosto de 2012

CRÍTICA: Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge


The Dark Knight Rises
165 minutos - Ação - 2012 (Estados Unidos)
Roteiro: David S. Goyer, Christopher Nolan,  Jonathan Nolan
Direção: Christopher Nolan 
Elenco: Christian Bale, Tom Hardy,Michael Kain, Anne Hathaway, Marion Cotillard, Morgan Freeman, Gary Oldman, Joseph Gordon-Levitt, Matthew Modine 




Confesso que após os créditos finais desse Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge, eu estava decepcionado. Achei o final fraco, me incomodei com alguns furos no roteiro. Não gostei e fiquei com a impressão de ter visto algo covarde. Algumas horas depois ainda pensando no filme comecei a rever o meu conceito inicial. Percebi que ao fazer minha analise preliminar não havia me dado conta de que se tratava de um filme de super-herói, e também encarando toda a trilogia como apenas uma obra, o que é fantástico e fruto do bom trabalho do diretor e dos realizadores.

O filme começa de forma similar ao anterior com uma cena de apresentação do vilão. Há uma negociação, alguns homens amordaçados são entregues à agentes da CIA que entram num avião. Eles fazem perguntas sobre o mercenário chamado Bane (Tom Hardy), e mesmo sob ameaça de morte nenhum deles parece querer cooperar... Até descobrirmos que um dos prisioneiros é o próprio Bane, preso de propósito para seqüestrar um cientista em poder das autoridades, forjar a morte do mesmo e de todos os seus capangas. A cena mostra de forma muito eficaz características básicas do personagem como sua força acima do normal, inteligência nos planos e a devoção de seus homens, que preferem morrer a entregá-lo, chegando ao ponto no qual deles é informado da necessidade de morrer em prol da causa, e nem esboça reação. Em suma, temos uma boa visão da ameaça que é o antagonista, e a dificuldade que trará ao herói.

Em seguida um corte para a mansão Wayne, onde acontece a comemoração do dia de Harvey Dent, em homenagem ao promotor que virou herói por efetuar um número recorde de prisões e desestabilizar a máfia em Gothan. A celebração é aberta com um discurso do comissário Gordon (Gary Oldman), que embora pense em revelar a todos a farsa sobre este dia através de um documento que carrega consigo, acaba mantendo o discurso político. Somos informados de que oito anos se passaram desde os acontecimentos do filme anterior e devido ao sacrifício de Batman que assumiu os crimes cometidos por Dent, a cidade está limpa. Aqui vemos um Bruce Wayne (Christian Bale) recluso, mais velho e caminhando com o auxílio de uma bengala. Muitas informações importantes são levadas ao nosso conhecimento de forma inteligente através de diálogos casuais de personagens secundários, como a separação de Gordon e sua esposa, e o a vontade do prefeito de destituí-lo do cargo em breve.



Dois importantes personagens são apresentados: o policial Jonh Blake (Joseph Gordon-Levitt) e a ladra Selina Kyle (Anne Hathaway). O primeiro surge como um misto de Batman e comissário Gordon. Esperto pró-ativo e apelidado de “esquentadinho” pelos companheiros, sempre tenta tomar a frente da situação e ser o “herói”. Selina pelo contrário tem uma personalidade mais complexa. Hathaway faz um bom trabalho ao criar uma personagem intricada, que pode ser vilã ou heroína dependendo do momento, mas que no fundo tem um objetivo bem definido.

O roteiro é inteligente e bem planejado unindo com competência os três trabalhos da franquia. Fazendo com que de certa forma eles sejam apenas um, com começo, meio e fim. Isso é reforçado pelas conseqüências do filme anterior, e também ao resgatar a liga das sombras e Ra's al Ghul, presentes no primeiro longa. O detalhe da prisão do Batman, e a similaridade com a cena do da queda de Bruce, ainda menino, no poço é algo muito inteligente. Não apenas pelo aspecto estético de juntar o momento de maior dificuldade do personagem com seu grande primeiro trauma no passado, mas por que aqui também ele é obrigado a treinar e encarar a vida de outra maneira pra poder seguir em frente.Claro que existe uma grande falha, no que diz respeito a um determinado personagem confessar a Bruce Wayne que sabe de seu segredo, e a forma como ele diz ter descoberto é patética e sem fundamento. Embora esse fato seja importante para o desenvolvimento da trama, não seria muito difícil criar alguma outra situação mais cabível para resolver o problema.

Comparações entre o vilão Bane e o Coringa (Heath Ledger) de Batman – O Cavaleiro das Trevas, são inevitáveis. Ledger fez um trabalho maravilhoso com o Coringa, difícil de ser alcançado por outro ator, ainda mais se levarmos em conta ser uma obra de super-heróis. Mas Tom Hardy tem um belo desempenho. Com uma postura dominante e voz diferenciada, consegue nos fazer acreditar que o personagem é muito respeitado, podendo atrair muitos seguidores, e inteligente sendo capaz de estar um passo a frente do herói em muitas ocasiões. 



Bale tem a chance de executar sua melhor performance como Batman. Vale a pena ressaltar a conversa entre ele e seu mordomo Alfred (Michael Kane) carregada de emoção, na qual os dois intérpretes chegam ao máximo da dramaticidade, com falas simples e alguma formalidade conseguem passar ao espectador o carinho que um tem pelo outro e a dificuldade da decisão tomada. Nas outras cenas ele também não decepciona, o sujeito nos passa a impressão de um herói velho, cansado, com uma expressão carregada e melancólica. Isso é conseqüência de não ter conseguido salvar seu grande amor, e também dos acontecimentos do capítulo anterior que transformaram Gothan numa cidade segura e sem bandidos e Batman num vilão perseguido pela polícia pela morte de Harvey Dent, e culpado pelos crimes cometidos por este último. Sem objetivo de vida ou pessoas com as quais se preocupar, ele não tem medo de morrer ou qualquer expectativa quanto ao seu futuro.
O diretor é inteligente ao encenar as lutas do Batman de forma bem diferentes dos filmes anteriores. Dificilmente o vemos atacando um inimigo de surpresa. Aqui ele parece cansado e lento, não é sorrateiro, sem a capacidade de prever os golpes e ações dos inimigos na maioria das vezes. Se antes esperávamos que vencesse seus oponentes sem dificuldades, aqui estamos sempre temendo pelo que pode vir a acontecer com ele.

Os efeitos especiais são muito bons. Detalhe para a cena inicial da destruição do avião e a implosão do estádio de futebol. Exceção feita às cenas de “malabarismo” da moto do herói, que inverossímeis e repetitivas acabam incomodando um pouco.  Não podemos nos esquecer da parte sonora, responsável por auxiliar na voz, já interessantemente construída por Tom Hardy, para o vilão Bane. O filme tem um bom desenho de som, o que realça o realismo das cenas de ação e as torna mais empolgantes.

Nolan Consegue terminar a franquia de forma satisfatória, elegante, inteligente, que agrada não apenas aos fãs mas também aos espectadores de cinema em geral. Embora os erros apontados diminuam um pouco a qualidade, não comprometem o resultado final.


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A idéia do roteiro de fazer com que o reator criado pelas indústrias Wayne seja colocá-lo sob o controle justamente da pessoa que deseja utilizá-lo de forma maligna é muito boa, ainda mais se levarmos em conta a reviravolta surpreendente envolvendo Miranda Tate (Marion Cotillard). È uma grande sacada fazer com que Batman tenha que lutar contra seu par romântico, levando em consideração que no filme anterior ele sofreu por ter feito o oposto, não conseguir proteger sua amada, mas é uma pena que o modo encontrado para chegarmos nisso seja um inverossímil relacionamento entre Bruce e Miranda. Digo que não faz sentido por que tudo é muito rápido, ainda mais observando os ressentimentos e remorsos de Bruce por seu antigo amor. Diferente da relação do mesmo com Selina, que vai sendo construída de forma gradativa e pontual.




No início do texto eu disse que ao sair do cinema eu achei o filme ruim. O ponto chave pra isso foram alguns acontecimentos do 3º ato: O personagem não morrer, mesmo quando tudo levava a crer que isso devia acontecer; Gothan ganhar um novo herói substituindo Batman (Robin?); e o final ser de certa forma a realização do mentor do protagonista, Alfred. Bem eu pensei muito... Então percebi que embora meu raciocínio estivesse certo, eu estava levando em conta um drama, ou alguma obra protagonizada por um herói talvez, mas não um “super”. Os produtores nunca permitiriam que o Batman morresse, por mais que fosse a vontade dos roteiristas. Mas a aposentadoria do mesmo já é algo bastante corajoso. Não será possível ter uma continuação, a menos que ignorem boa parte desse filme, algo muito errado e incoerente se vier a ser realizado. Além do mais, isso em conjunto com os conselhos de Alfred, e a frase protagonizada pelo herói no final do longa anterior no qual diz: “Ou você morre como Herói, ou vive o suficiente para se tornar um vilão” estão casados e coerentes com o que vemos aqui, incluindo a estátua erguida para o personagem. 

A idéia do surgimento de um novo “protetor” para Gothan também é interessante e inteligentemente representada pelo plano filmado no qual Blake entra na caverna, idêntico ao do Bruce, quando viria a se tornar Batman no primeiro filme. A maneira encontrada pelo protagonista para escapar da explosão nuclear não é mostrada, e tudo que antecede acaba tornando-a mais inverossímil. Também entra neste contexto a já citada descoberta da identidade do Batman por Jonh Blake, e a forma como Wayne perde toda sua fortuna. Como pode isso ser possível uma vez que milhões testemunharam os atos de Bane na bolsa de valores? Ninguém parou pra pensar que todas aquelas transações deviam ser invalidadas?

Foram estes tropeços que inicialmente me fizeram ter uma experiência negativa com o filme. Mas pensando melhor, observei que os méritos de Christopher Nolan ao integrar os três longas, e seu corajoso e satisfatório final merecem aplausos num volume muito maior do que as vaias para os erros. Além do mais, conseguir realizar uma obra de super-herói na qual o mesmo aparece pouco, tendo em vista a maior quantidade de cenas de seu alter ego, é algo louvável e encerra a trilogia de forma soberba.

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